sexta-feira, 30 de março de 2007

Ser Gente Grande

Um dia ele acordou querendo voltar a ser criança. Era tudo tão mais simples. Não tinha que pagar contas, nem resolver problemas, nem trabalhar, nem estudar tanto. Se quisesse comer, preparavam seu lanche. Se quisesse dormir, sua cama era arrumada. Não precisava preocupar-se com o peso, ou com os cravos e espinhas, que insistem em nascer mesmo aos vinte e cinco anos. Ou com o cabelo que começa a cair. Não precisava declarar imposto de renda. Nem calibrar os pneus, verificar o óleo, colocar o carro pra lavar e pagar o IPVA e o Seguro, porque seus carrinhos não eram tão exigentes. E se fizesse o que desse na telha, deixa, é da idade. Mas enquanto estava saudosista, lembrou-se em como toda criança deseja ser gente grande. Afinal criança não pode sair sozinha, nem fazer o que tem vontade, nem comprar aquele brinquedo que todos os colegas têm. Tem que usar a roupa que o pai e mãe decidiram comprar e que, apesar de ser muito feia, ficou uma gracinha. Tem que assistir aula às 7 da manhã, depois de tomar um banho numa água de doer os dentes de tão gelada. E fazer tarefa, senão vai pra ficha de ocorrência. E arrancar dente. E esperar alguém que o pegue na aula, porque não pode dirigir. Nem teria carro mesmo. Não pode namorar. Nem assisitr ou fazer nada que seja proibido para menores, mesmo que já tenha os inacreditáveis nove anos e já esteja quase do tamanho dos seus velhos. Ser humano é assim. Nunca está satisfeito com a idade que tem, mesmo que ela seja a melhor. Basta saber que tudo tem seu tempo. E se fosse diferente, não teria a menor graça. E, nesse mesmo dia, ele foi dormir feliz com seus vinte e cinco anos e com todas as suas contas a pagar.

4 comentários:

Melissa Vale disse...

Perfeito!
Amei de verdade esse texto. Deve ser pq ser adulto é realmenete tudo isso. E ser criança tb...
É a vida!
Beijo.

Anônimo disse...

Lindo! Já não era sem tempo...
E que pés lindos ele tem, rs.
Beijos

Unknown disse...

Muito bom. Você pode não ser um exímio escritor (ainda) mas me emociona falando do cotidiano com a sinceridade e emoção de um grande autor q adoro.

Ana Patrícia Lima disse...

hummm q coisa linda!
eu ainda n tinha vindo ler esse texto... hahaahah e realmente pareceu com o meu lembrando desse tempo que ficou pra trás, da dor e delícia de estudar no Diocesano!

bjo!
:)